quinta-feira, 24 de abril de 2014

25 de abril 40 anos - 26 - Cantautores ou cantores de intervenção


Após o 25 de Abril e com a instauração da democracia surgiram vários cantores que fizeram da canção uma arma de divulgação de ideias. Dos convites à luta para impor direitos até à reivindicação de direitos para os trabalhadores passando por textos pessoais ou de autores consagrados surge-nos de tudo um pouco. Destes cantautores muitos ficaram quase desconhecidos outros são nomes que vingaram no panorama da música nacional. Aqui fica uma lista de alguns desses nomes que nos tempos conturbados do PREC fizeram, como se disse atrás, da canção uma arma. Entre os mais conceituados e conhecidos temos Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Vitorino, Pedro Barroso, Manuel Freire; menos conhecidos temos António Pedro Braga, Carlos Cunha, Fausto, Fausto, Francisco Fanhais, Francisco Naia, GAC - Vozes na Luta, Luís Cília, Sérgio O. Sá, Tino Flores, Vieira da Silva.
Destes últimos nomes destaca-se Francisco Fanhais, que musicou poemas de Sebastião da Gama e Sophia como a “Cantata da Paz” (“Vemos ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar”) ou “Porque” e a quem Zeca Afonso deixou a seguinte dedicatória: «Tu que cantas defronte de faces atentas e seguras, faz do teu canto uma funda. Nesse lugar, entre outras mãos mais fortes e mais duras, te estenderei a minha mão fraterna. Canta amigo!». 

Cantata da paz
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror

A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças

D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados

Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado
(Sophia de Mello Breyner Andresen)




4 comentários:

  1. Sim, a cantiga é uma arma. Na falta de outras, há que continuar a usa-la. Pena é que nos dias de hoje haja tão poucos "atiradores". Eu vou fazendo o que posso, através da net e com tecnologia artesanal.
    Se me é permitido aqui vai uma das minhas letras que musiquei.

    JÁ NÃO POSSO ACREDITAR

    Já não posso acreditar
    este povo ensurdeceu,
    cegou e perdeu a voz?

    Este país está a acabar,
    este país que era meu,
    Portugal que éramos nós.

    Já não posso acreditar
    nesta verdade que mente
    mais do que a própria mentira

    e que mentir e a roubar
    vai mostrando a toda a gente
    a gente que nos traíra.

    Já não posso acreditar...
    A gente que nos traíra
    usou cravo na lapela,

    cravo que gosto de usar,
    a minha flor preferida,
    ainda confio nela.

    Mas não posso acreditar
    nos infiéis que a profanam,
    tantos dele se aproveitam:

    boys que só sabem pastar,
    ganadeiros que se ufanam,
    mas nem um cravo respeitam.
    Sérgio O. Sá

    ResponderEliminar
  2. O meu obrigado à Administração deste blogue por permitir que aqui deixasse os versos "Já não posso acreditar" que musiquei.
    Passando por cá, de novo, reparo que o BLOGUE EXPRESSÃO está ligado ao Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque, na cidade da GUARDA.
    Por aí andei durante quase 4 meses, no ano de 1965, guardando gratas recordações. Já no presente século, a Câmara Municipal dessa cidade publicou um texto de minha autoria com o título "DE PASSAGEM", integrado na Colecção "O Fio da Memória". Desse meu "Caderno" gostaria de deixar aqui a Nota Prévia, datada de 24 de Setembro de 2004 e que é assim:
    «O presente texto, elaborado há já algum tempo, reporta-se à minha passagem por Terras da Guarda, no ano de 1965, era eu militar em vésperas de partir para Angola em missão dita de soberania.
    Momento difícil, sem perspectivas, em que somente as dúvidas, o receio e a desesperança me acompanhavam, como provavelmente à maior parte daqueles que se encontravam em idêntica situação.
    Valeu-me o amparo que vim encontrar entre a austeridade desta Região e o afago carinhoso, o dom da solidariedade, da partilha desinteressada e da bondade ingénua da sua Gente.
    Tive sorte, ao fim e ao cabo, por ter vindo parar a esta Terra, pois nos três meses em que cá permaneci - breve período que as circunstâncias de então fizeram correr à velocidade da luz - algo de valioso pude apreender; algo com que passei a poder contar no difícil trajecto da minha existência.
    O tempo é outro. Mas a verdade de há trinta e nove anos, que não pode ser a verdade de hoje, permanece viva na minha memória. Lembrança feita gratidão. Gratidão devida a esta Terra e à sua Gente que me deu a mão.»

    Nos últimos dias dessa minha passagem pela Guarda elaborei o poema seguinte:

    DESPEDIDA

    Vou deixar-te.
    Sou obrigado a partir.
    É a sorte de um soldado
    Que já não pode fugir
    Do seu destino traçado

    Por um país decadente
    Que está a ser governado
    Por alguém que, infelizmente,
    É cego e surdo e culpado

    Do que está a acontecer.
    A partir sou obrigado.
    Não vou deixar-te por querer.
    É a sorte de um soldado.

    É a sorte de um soldado
    Num país que está a morrer.
    _______
    Dedicado à cidade da Guarda e sua Gente, em vésperas de partir para Angola, como militar. Guarda, Novembro de 1965.
    In: Sérgio O. Sá, "Versos na Guerra - Versos de Paz"

    ResponderEliminar
  3. Dia 1 de Junho, DIA MUNDIAL DA CRIANÇA.

    A pretexto deste Dia, ao contrário das extensas dissertações que costumo fazer sobre o assunto, aqui deixo este brevíssimo poema que, com um abraço de esperança, dedico às CRIANÇAS de todas as idades e do mundo inteiro.

    ALGUM DIA VIRÁ

    Algum dia virá...
    É a esperança,
    O alento para que o poema aconteça,
    A Justiça tenha nome
    E o Homem nasça, finalmente,
    No canto de criança.
    ______
    In: Sérgio O. Sá, DISPERSOS NO TEMPO (Poemas escolhidos)


    ResponderEliminar
  4. Hoje, 21 de Setembro, é o DIA INTERNACIONAL DA PAZ, segundo declaração da ONU em 1981. É pena que as Nações Unidas se contentem com o facto de que o mundo tenha apenas UM DIA DE PAZ em cada ano. O pior é que, apesar de tão pouco, nem a um dia a Humanidade tem direito.
    É necessário que nos apercebamos de que a PAZ não corresponde apenas à ausência de conflitos bélicos. A PAZ é, tem de ser, muito mais!
    Enquanto houver na Terra um ser humano que sofra, um que seja, em resultado das acções dos homens, não poderá haver PAZ. A fome, a falta de abrigo, a falta de trabalho, de assistência na doença, a ausência de educação, de cultura, de reconhecimento do direito do outro à dignidade de Ser Humano, mais não são do que a negação da PAZ.
    De que serve, pois, a proclamação que os "senhores" da ONU fizeram há 34 anos?
    Termino com um poema elaborado em 1977, a que dei o título:

    MUDA ENQUANTO É TEMPO

    Apareceste...
    E o mundo que fizeste
    Transformou-te neste mundo.
    Foste mentira,
    Hoje és a guerra
    E, amanhã, tua ira
    Será o fim da tua era.

    ...Aonde chegaste
    Com tua vingança!

    Muda enquanto é tempo, Homem!
    Transforma-te de novo!

    Abre teus braços,
    Estende tuas mãos
    E vamos brincar, todos,
    Como irmãos.

    Nascerá a esperança,
    Haverá amor
    E, então;
    Farás um mundo bem melhor!
    __________
    In: Sérgio O. Sá, "VERSOS NA GUERRA - VERSOS DE PAZ", Col. Verso Livre, Porto 2008.

    ResponderEliminar