terça-feira, 15 de outubro de 2013

VIAGEM ao Center for Fusion Energy (Inglaterra)


JET, vale a pena conhecer
por Alina Louro*


Em Culham, a pouco mais de 15 minutos de Oxford (a uma hora de Londres) situa-se o fantástico Centro de Fusão do Reino Unido. Trata-se, sem dúvida, de um local de excelência ao serviço da Física (de plasmas), Engenharia e Indústria. Numa formação promovida pelo IST (Lisboa) e suportada pelo Governo português, tive o prazer de o visitar durante a primeira semana de setembro. Fiquei surpreendida com a evolução da ideia central de produção de energia de forma limpa. Em “breve” a Terra poderá deixar de ser vítima de acidentes nucleares como os ocorridos em Chernobil ou Fukushima. O sonho já é uma realidade naquela localidade da Inglaterra.
As primeiras investigações na área da fusão nuclear datam de 1950, sendo que as primeiras experiências com resultados positivos foram desenvolvidas no Instituto de Pesquisa de Energia Atómica, em Harwell. Neste local foi construído o ZETA, o primeiro dispositivo de fusão em grande escala, mas em 1963 o material foi transferido para Culham, onde ainda permanece. O Centro foi o primeiro a realizar a fusão por confinamento magnético, concentrando-se na linha de máquinas tokamak (em forma de donuts). Só em 1978 é que o Centro de Culham “abraçou” o projeto europeu de fusão “flagship” com o objetivo de construir o JET (Joint European Torus), no âmbito do Acordo Europeu de Desenvolvimento da Fusão (EFDA).
O JET é o maior e mais poderoso tokamak do mundo e, actualmente, a única máquina capaz de operar com uma mistura de combustível à base de deutério e trítio. Em operação desde 1983, o JET foi especialmente concebido para estudar o comportamento de plasmas em condições e dimensões que se aproximam dos exigidos num reator de fusão. Do ponto de vista de design, é uma máquina simplesmente fascinante, considerada obra-prima de famosos arquitetos e engenheiros.
Nas instalações do JET trabalham cerca de 500 pessoas das quais 350 são físicos e engenheiros (essencialmente engenheiros físicos e mecânicos) de toda a Europa. Qualquer cientista qualificado tem direito a realizar/ testar experiências no JET, via marcação e apresentação de projeto.
O próximo passo na pesquisa da fusão é o ITER, um projecto que envolve vários biliões de euros e em construção em Cadarache, França. O coração do ITER é um supercondutor Tokamak com notáveis semelhanças (de design) ao JET, mas o dobro das dimensões lineares. Está projectado para produzir cerca de 500 MW de energia de fusão em 400 s e será a primeira experiência de fusão com uma potência de saída maior do que a potência de entrada. Os parceiros responsáveis pela construção do ITER são a União Europeia, a Índia, o Japão, a Coreia, a China, a Rússia e os Estados Unidos. Trata-se de um projeto com durabilidade de 30 anos: 10 anos para construção e 20 anos para operar. Conta-se que estará em funcionamento em 2019 e a sua instalação em França é já uma honra para a Europa.
No JET encontrei vários portugueses, quase todos jovens físicos e engenheiros que ousaram enviar o seu Currículo para Culham ou frequentaram universidades portuguesas com protocolos internacionais. Contam maravilhas dos ingleses por quem foram muitíssimo bem recebidos e com quem partilham ideias. Também o ITER deverá empregar portugueses, quem sabe jovens aqui da Escola que, à semelhança de outros ex-alunos, nos enchem de orgulho! Estes laboratórios também são nossos e nós, portugueses, só devemos ocupar os lugares que nos estão destinados. Para trás ficará a crise, a troika e outras coisas desagradáveis. Para a frente, o trabalho coletivo de quem, com sabedoria e dedicação, quer construir um mundo melhor.

*professora de Física e Química da ESAAG

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