António Augusto Rodrigues,
Professor de Português da ESAAG
A Desumanização,
DE VALTER HUGO MÃE
Este romance provoca profundas reflexões e paragens na leitura, através da voz de uma menina que nos conta o que fica depois de perder a irmã gémea. De forma enganosa dizem-lhe que não morreu, mas que foi semeada, razão porque a protagonista lhe irá atribuir a culpa dos seus males, pois a sementeira estará a germinar e a crescer, desumanizando a “ menos morta” . A rudeza e maldade da mãe é o principal obstáculo à felicidade da personagem, que será também produto do crescimento da semente, que provocará solidão, desespero, morte, perda… – os condimentos da desumanização.
Gostei muito da escrita: jogos de palavras, poesia em tantas frases. Todavia a mensagem é macabra, sempre que há uma luz ao fundo do túnel, esta é conspurcada pela intervenção da mãe, que se opõe à concretização de todos os seus sonhos e planos de adolescente, até no despontar para a paixão – desumanização.
É um livro de profunda delicadeza em que, embora a tristeza esteja quase sempre presente, não impede um constante deslumbramento do belo. Um livro pictórico, um livro de ver. Tem o que se chama o grotesco e o sublime.
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