Diabo e FMI à solta no TMG
No passado dia 5, as turmas do 9º ano deslocaram-se ao TMG, a fim de assistir à representação da peça “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, pela Companhia de Teatro de Braga.
Que pensar de um Diabo que aparece montado numa moto, com o seu Companheiro? Que não vive na sua barca infernal, mas numa barraca de bairro de lata, com antena parabólica no telhado? E um Anjo que veste robe cor-de-rosa e fuma um cigarro à janela? Estranho, se atendermos ao contexto da época de Mestre Gil…
Trata-se de uma adaptação livre da peça, mantendo, todavia, o texto original. O enredo gira em torno do momento do “juízo final”, quando as almas vão chegando ao cais, embarcando, depois, para o Inferno ou para o Paraíso. Claro está que, atendendo à intenção crítica do autor, a maioria irá terminar no “fogo ardente”, pelos pecados trazidos do outro mundo. Salvam-se, apenas, o Parvo (ingénuo, sem malícia) e os Quatro Cavaleiros, que morreram a lutar pela fé cristã.
Voltando à representação, adorámos o desempenho dos atores, especialmente do Diabo, pela sua voz e forma de estar, bem como pela capacidade de improvisação, fazendo rir a plateia vezes sem conta. Logo no início, ao som de Knocking on Heaven’s Door, dos Guns N’ Roses, o Diabo fuma o seu cigarro, com ar prazenteiro, ao ritmo da música, esperando calmamente os seus passageiros. É um toque de modernidade que acaba por espantar e, logo a seguir, cativar o auditório. Ainda no campo musical, pareceu-nos adequado o uso da música de Money, dos Pink Floyd, para assinalar a entrada do Onzeneiro, o homem que pensa que o dinheiro pode comprar tudo, até a entrada no Céu! A Alcoviteira foi das personagens mais aplaudidas: uma bela atriz brasileira, simbolizando a tentação da carne, à qual nem os frades resistem. O Parvo desempenhou bem o seu papel, criando o riso com o seu calão interminável.
Todavia, surpresa das surpresas, os Quatro Cavaleiros baralharam o público: rostos tapados com máscaras que representavam figuras bem conhecidas da atualidade - Durão Barroso, Angela Merkel, Christine Lagarde… a crise europeia, o FMI, a sombra da Troika, os políticos do momento chegaram ao cais, com destino ao… Paraíso??? Pareceu-nos que muitos alunos não entenderam este desfecho, perante o clima de contestação que vivemos no que a estes assuntos diz respeito.
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